quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Nosso Olhar...

Quase um ano se passou desde a primeira vez que encontrei os olhos curiosos dos alunos da Associação Santa Amélia. O meu medo unido ao medo deles...o desconhecido, o novo, a expectativa. Rafael, Luana, Jean, Wesley, Larissa, Naiara, Milena, Palloma, Wesley...foram tantos. Hoje estou saudosa. Com saudade de sair antes das 6h para encontrar com vocês. Compartilhar os meus conceitos e entender o contexto de vocês. E quando a saudade bate, assisto ao documentário... Um breve registro de tudo que vivemos durante aqueles meses todos. Esse é o Nosso Olhar.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Sobre corredores de hospital, pessoas boas e médicos que só “cumprem o seu papel”.

A porta diferente, sem trancas e maçanetas, feita de borracha não para de bater. Os gemidos de D. Maria “estou mal, estou muito mal mesmo” não param durante toda a madrugada. Sr. João decidido a ir embora, gritava pelos médicos para que lhe tirassem as agulhas, devolvessem o sapato para que ele pudesse ir embora. Assim como fez uma moça que aos prantos pedia para ser ajudada e que de repente, sem alta ou qualquer outra explicação, calçou as sandálias e saiu pela porta da frente. Felipe com os olhos fixos em mim, sem dizer nada, amarrado, como se pedisse ajuda “faça alguma coisa”. Mas fazer o que? E o que dizer do rapaz que ao se encontrar impedido de consumir “essas porcarias” – como o pai prefere chamar o vício do filho em crack – resolve cantar durante toda a madrugada para alegrar o plantão dos enfermeiros? 12 horas. Uma madrugada. O tempo parou para todo mundo? As horas continuam, depois de olhar no relógio três vezes, e perceber que só se passaram 15 minutos. Mas aonde foram parar aquelas três horas que achei terem passado? Esse texto não tem muito nexo, não segue uma ordem cronológica ou faz sentido. Afinal, quando uma madrugada em um pronto socorro faz sentido? Muitas questões. Foi uma madrugada de muitas perguntas e poucas respostas. Por que as pessoas são abandonadas pelos familiares? Por que os enfermeiros fingem ouvir você, mas na verdade estão ouvindo música pelo celular? Por que a residente para de escutar o paciente para atender o celular e conversar com o namorado na madrugada? Por que a enfermeira trata um paciente recém-falecido de “mais um presunto passando”? Claro que ninguém gosta de passar horas no corredor de um hospital. Afinal, gostamos de imaginar que somos invencíveis e que doenças “ruins” e não mencionadas só atingem a maca ao lado. Porém, essas horas serviram para me fazer enxergar as coisas de outra forma. A indignação fica latente, porém o que fazer com todo esse sentimento ruim. Enxergar a abundância. Médicos que amam a sua profissão e que sofrem calados a cada vida perdida. Acompanhantes que ao se encontrarem lado a lado encostados nas macas se tornam solidários às dores alheias e acabam compartilhando frustrações, esperanças de melhoras, diagnósticos, revistas e lanches. “Como só temos uma cadeira, podemos reverzar, cada uma dorme um pouco e descansa durante um período.”. Esperança. Na medicina. No papel bem cumprido de cada profissional presente ali. Em Deus. E no ser humano. Porque o ser humano, ele é bom! E o que resta? Esperar. Esperar nesses corredores que de rápidos têm somente as macas que passam apressadas. Claro que não está fácil pra ninguém, não MESMO. Mas no final, o que todos buscamos é o sucesso... (como me ensinou meu irmão). E que venha o próximo plantão, o próximo médico e a renovação da esperança de que alguém tenha recebido alta e sua vez finalmente tenha chegado. ps: Esse texto é fictício ou pode ter se passado em qualquer pronto socorro em qualquer cidade em qualquer país...nesse mundão de meu Deus.